Por Veridiana Gabriel
Hoje, no Dia Mundial da Saúde Mental, refletimos sobre as inúmeras maneiras de cuidar da mente e das emoções. Em meio a terapias tradicionais, medicações e práticas de bem-estar, a arte surge como uma poderosa aliada na promoção da saúde mental. A fotografia, em particular, vem ganhando destaque como uma forma de terapia acessível, envolvente e eficaz para melhorar a qualidade de vida. Mas como exatamente o ato de capturar imagens pode impactar positivamente nossa saúde mental?
A Conexão entre Criatividade e Saúde Mental
Estudos indicam que atividades criativas, como a fotografia, podem reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão. Isso ocorre porque, ao nos envolvermos em um processo artístico, nosso cérebro libera neurotransmissores como a dopamina, o que está diretamente relacionado ao prazer e à sensação de bem-estar. Além disso, a prática criativa melhora a neuroplasticidade, promovendo maior resiliência emocional e uma melhor capacidade de adaptação às dificuldades da vida.
A fotografia, assim como outras formas de arte, permite que as pessoas se expressem de maneira única, processando sentimentos complexos que podem ser difíceis de verbalizar. Através das imagens, emoções internas são externalizadas, trazendo à tona memórias e histórias que, muitas vezes, ficam ocultas.
O Papel da Fotografia Terapêutica
A fotografia terapêutica é uma prática usada por psicoterapeutas, na qual os pacientes tiram fotos como parte do processo de cura emocional. Diferente da arteterapia mais ampla, ela foca na captura e interpretação das imagens como meio de autoconhecimento e exploração emocional. Em um estudo realizado pela Universidade de Lancaster, os pesquisadores descobriram que indivíduos que praticavam a fotografia regularmente relataram melhora significativa no humor, maior capacidade de reflexão sobre si mesmos e um senso ampliado de significado em suas vidas.
Além disso, a fotografia pode promover a atenção plena. Quando alguém se concentra em capturar uma imagem, ele precisa estar atento aos detalhes ao seu redor: a luz, as formas, as cores, e até os sentimentos que a cena desperta. Esse foco promove o "aqui e agora", ajudando a diminuir a ruminação – o pensamento constante em problemas do passado ou ansiedades do futuro.
Capturar Memórias: Uma Jornada de Cura
O poder das fotos também se manifesta na preservação de memórias, especialmente para aqueles que passaram por traumas. Capturar momentos pode ajudar as pessoas a reconstruírem suas narrativas pessoais, dando um novo significado a experiências difíceis. De fato, pesquisas mostram que a fotografia pode ser particularmente útil no tratamento de transtornos de estresse pós-traumático (TEPT). Ela oferece uma maneira segura de revisitar o passado, onde o fotógrafo controla o que é focado e como as emoções são processadas.
Além disso, ver fotografias de momentos felizes pode atuar como uma ferramenta de autocuidado. Revisitar fotos de momentos felizes, encontros com amigos ou momentos de calmaria pode evocar sentimentos de gratidão e ajudar a regular as emoções em tempos de crise.
Fotografia Coletiva: Conexão e Pertencimento
Outra faceta importante da fotografia como terapia é o seu potencial para fortalecer laços sociais. Em tempos de isolamento, seja físico ou emocional, a fotografia pode servir como ponte entre as pessoas. Ao compartilhar fotos, as pessoas criam uma narrativa comum, trocando vivências e fortalecendo conexões. Participar de grupos fotográficos ou projetos comunitários de fotografia pode aumentar o senso de pertencimento e reduzir a sensação de solidão, fatores cruciais para a saúde mental.
Além disso, para muitas pessoas, a fotografia de si mesmas, como em ensaios fotográficos, ajuda a ressignificar a relação com o próprio corpo e autoestima. Enxergar-se através de uma lente cuidadosa e empática pode transformar a forma como nos vemos, promovendo autoaceitação e bem-estar.
Reflexão Final
A fotografia oferece muito mais do que belas imagens. Ela é uma ferramenta terapêutica poderosa, que pode ser usada tanto individualmente quanto em grupos, ajudando na expressão emocional, na atenção plena e na conexão social. No Dia Mundial da Saúde Mental, é importante lembrar que a cura pode ser encontrada nas pequenas coisas, como um clique que captura um momento feliz, uma paisagem ou até mesmo um reflexo do nosso próprio ser. Através da fotografia, podemos registrar não apenas o que está à nossa volta, mas também o que está dentro de nós – e isso pode ser transformador.
A arte de fotografar é, afinal, a arte de ver. E ver com novos olhos, com mais gentileza e intenção, pode ser o primeiro passo para uma saúde mental mais equilibrada e plena.
Veridiana Gabriel
